Por Ivo Korytowski
Cyro de Mattos — poeta, contista, cronista, ensaísta, antologista,
em suma, ativista cultural de Itabuna, sul da Bahia — é velho colaborador deste
blog, como você pode constatar clicando em seu nome no menu da barra vertical
direita. Seu artigo sobre Lima Barreto é
um "campeão de audiência", com mais de 3 mil visitas, e em Uma Amizade
Antiga Cyro discorre sobre o segundo melhor amigo do homem, que
é o livro (o primeiro dizem que é o cão).
Semana passada (23/10/13) tive a satisfação de comparecer à posse de Cyro
como membro titular do PEN Clube do Brasil, na sede do clube, no
décimo-primeiro andar de um prédio da Praia do Flamengo, na altura do Largo do
Machado, onde tantas vezes no passado eu fora visitar (ou pegar para passear) o
grande intelectual e memorialistaAntonio Carlos Villaça. Villaça, um homem que
vivia num mundo paralelo, puramente intelectual (platônico?), e que nunca
amealhou dinheiro por falta de vocação para as insignificâncias materiais,
durante muitos anos, por intercessão do acadêmico Marcos Almir Madeira, morou
de favor num quarto do clube, cujo terraço apropriadamente chamou de "Mirante
do Flamengo". "Aqui estou no mirante do Flamengo. Nunca antes
morei assim tão perto do mar. [...] Agora, estou no meu mirante solitário,
diante do mar. E vejo a entrada da barra, o Pão de Açúcar", escreveu
Villaça emDegustação. "O
mirante do Flamengo me liga ao mar. O mar está perto de mim. O vento do mar vem
até mim. E eu me debruço na varanda e olho o mar."
Em seu discurso de posse, Cyro faz sua profissão de fé no ofício do
escritor e na literatura: "Há quem ache que ser escritor é destino,
fatalidade que começa mal desponta a manhã. Não deve ser nada bom. Não pode ser
mesmo para quem sustenta, na sua maneira de achar estranha a vida, todo o peso
terrestre, embora existam os pássaros cantando a madrugada com suas cores
suaves. Para que serve a poesia? Respirar e viver, disse Borges. Expressar que
dentro de mim o rio flui, o mar cerca por todos os lados, anotou Eliot. Para
que serve o romance? Conhecer Deus e o diabo nas vastidões do sertão alado do
mineiro Guimarães Rosa. Ler o mundo quando ele diz que maior do que os confins
daquele sertão mineiro é o que descamba sem fim depois do lado de lá, naquele destamanho de
um enigma que ninguém consegue decifrar.
Precisamos da literatura como a atmosfera. Dela nos servimos para
inaugurar novos sentidos da vida. Sem querer polemizar, penso que a literatura
é uma profissão da qual não pode fugir quem a abraçou de verdade. É condição,
ato ou efeito de professar, perseguir, proferir crenças e valores. Declarar
publicamente ao outro que não vivemos sozinhos, navegamos em águas precárias em
que as perplexidades avultam. Nosso discurso não é feito para agradar a grupos.
Com a diversidade que celebra seres e coisas, costuma perdurar nas lembranças,
incertezas e esperanças. Se quiserem, pode ser uma missão, pois tudo dá ao
outro sem nada querer de volta. A literatura é capaz de salvar o mundo. É
o caminho para que os povos encontrem-se como irmãos, sintam-se em total união
do amor como verdade."
O editor deste blog concorda em gênero, número e grau, e assina embaixo.
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