Autores
do Sul da Bahia
Cyro de Mattos
ADONIAS
FILHO
"Diferente
de Jorge Amado, que se interessa mais em contar a história de princípio, meio e
fim, com personagens previsíveis, vinculada aos saberes populares, Adonias
Filho tem na forma e ideia uma técnica revolucionária de inventar um drama, uma
tragédia. Escritor de alto nível estético, denso,
elíptico, de estilo poético no fraseado que ultrapassa o regional e alcança o
plano universal porque em sua narrativa há muito de simbolismo. Às vezes sua
linguagem tem entonação bíblica. A paisagem humana não é trabalhada em nível do
típico, exótico, e o cenário, tanto na geografia intimista da zona cacaueira
baiana como na urbana, é formado de magias e mitos. Um mestre na armação do
drama, na condução da tragédia. Sua obra é uma das perpendiculares da
moderna ficção brasileira. “
FLORISVALDO MATTOS
“Meu amigo e patrício.
Poeta de minha admiração. De lastro clássico, versos extensos. De estro enorme, no épico, histórico,
solidariedade social, evocativo do campo com fatura lapidar. Desde o início, o bardo de Água Preta une o
eu lírico ao artesão da palavra com os instrumentos do sonho, sonoridades e
metáforas incandescentes de esperança resultando no discurso vigoroso, encanta
a quem lê.”
HÉLIO PÓLVORA
“Meu conterrâneo, deu-me o
prazer de ser o primeiro crítico arguto que se debruçou sobre um livro de nossa
autoria, foi muito generoso, não precisava tanto, coisas de conterrâneo. É visível que a vocação desse contista tende
para as intenções de recolher e transformar na arte genuína as impressões que a
vida propõe nos momentos habitados por vozes vertiginosas. Seu conto Os Galos
da Aurora é um primor da prosa de ficção curta. Bastava que escrevesse as
quatros narrativas antológicas de Mar de Azov para ter seu lugar
assegurado na literatura moderna brasileira
JORGE AMADO
“Homem de coração bom.
Mantivemos uma rica relação de amizade.
Também nascido em terras de Itabuna, Escritor grandão, de linguagem
sensual, despretensiosa, em sua maneira fraternal de conceber o mundo. Para ele
é mais importante o conteúdo, muitas vezes interligado na trama, do que a
palavra com a qual a vida é recriada. Construtor de personagens que ficam para
sempre. Faz pensar e ao mesmo tempo rir sua mensagem de esperança, muitas vezes
de fraternidade, vozes cheias de liberdade na escrita irreverente.”
JORGE ARAÚJO
Nascido em Baixa Grande,
radicado há anos no Sul da Bahia. Poeta, cronista, contista, autor de livros
infantis, crítico literário, dramaturgo e ensaísta. Professor de literatura
aposentado pela Universidade Estadual de Santa Cruz. Tornou-se Doutor em Letras
com a tese Perfil do leitor colonial,
em 1988, sendo esse título concedido pela Universidade Federal do Rio de
Janeiro. Conquistou duas vezes o Prêmio Nacional de Literatura da Academia de
Letras da Bahia. Um dos vencedores do Prêmio da Associação Brasileira de
Editoras Universitárias. Erudição e sensibilidade unem-se com lucidez em seus
ensaios investigativos, marcados por conceitos de alto nível e raciocínios
inteligentes.”
JORGE MEDAUAR
“Também foi poeta, esse
contista de Água Preta, de estilo simples, cheio de humanidade ingênua em suas
histórias que prendem, desenhadas como flagrantes da vida diária na cidade
pequena, recheada dos costumes de seu tempo. Marcada com a boa prosa gostosa de
escutar, ler no bilhete, carta, notícia do jornal que vinha de Ilhéus no trem.
Aparentemente fácil, na serenidade de seu discurso há muita observação da vida
documentada com sensibilidade.”
MARCOS SANTARRITA
“Nascido em Aracaju,
passou a adolescência em Itajuípe. Jornalista, tradutor e ficcionista. Publicou
os romances Danação dos justos
(1977), A solidão do cavaleiro no
horizonte (1979), A juventude passa
(1984), Lady Luana Savage (1987), A ilha
nos trópicos (1990) e Mares do Sul (1990). Bahia
minha (1996) é o seu único livro de
contos. Volume de 542 páginas, premiado pela Academia Brasileira de Letras, Mares do Sul é romance que suscita
interesse do leitor comum e do íntimo de questões estéticas sofisticadas. Suas
narrativas em discurso largo deixam ver
o contexto em que vivia o negro africano como escravo no Brasil Colônia. Era
tratado como uma coisa abjeta, servil, covarde, mas que apesar de tudo tinha
alma, sentimentos formados por vícios ou virtudes.”
SONIA COUTINHO
“Nascida em Itabuna, cedo
mudou-se com a família para Salvador. Viveu no Rio de Janeiro onde exerceu o
jornalismo e a tradução para sobreviver. Na traiçoeira invenção da vida, os
fados não lhe permitiram que desfrutasse do lado azul da canção. Ficcionista de
solidão em família, de atritos e conflitos, pungentes, doloridos. Um momento
singular da atual ficção brasileira, ao nível de Clarice Lispector e Lígia
Fagundes Telles.”
SOSÍGENES COSTA
“Poeta nascido em
Belmonte, que lhe inspirou Iararana, seu mito nativista. Quando viveu em Ilhéus, viu a cidade como um
búfalo fosfóreo, inventou uma sereia que se despiu do mito, depois de ter lido
Marx e Freud, e deu uma festa no mar. Poeta de signos irregulares, mesclado nas
vertentes barroca, parnasiana, simbolista, modernista e popular. De tardia
repercussão nas letras brasileiras. Desenhou a flor do cacau toda orvalhada e
moça. Mostrou que na lira não habitam somente versos malditos, também existem as
flores, os pavões de audição colorida, fazendo a vida rútila e festiva.”
TELMO PADILHA
“Nascido em Ferradas,
distrito de Itabuna, onde também nasceu Jorge Amado. Em seu Voo Absoluto há uma difícil
travessia, exposta aos olhos como impossível de aceitar. Seu discurso
aprofunda-se nos temas impregnados de perda, fuga, medo, solidão e morte. Em Provação,
livro póstumo, o clima lírico do eu sereno está impossibilitado de acolher a
adversidade da vida armada pelo fato estúpido, inexplicável, da derradeira
verdade. A tragédia que ceifou o filho
amado vem ao debate através do eu reflexivo, lamento em grito, em que a palavra
aflora intensa na dor, emerge das silabas feridas na alma em delírio, do
coração que sangra, e não tem cura. Um livro que merece uma edição digna de um
poeta verdadeiro.”
VALDELICE PINHEIRO
“Outra poeta nascida em
Itabuna. Seus poemas bem construídos integram-se no repertório valoroso da
poesia produzida na Bahia. Atestam que, se a melhor poesia produzida no Brasil
hoje está no Nordeste, como foi lembrado pelo tradutor e poeta Ivan Junqueira,
acontece principalmente na Bahia. E, entre os baianos, Valdelice Soares
Pinheiro tem sua voz, sua impressão digital, seu talento, sua ideia imaginada
com precisão e saber, que se inscreve em patamar de afirmativo nível
literário.”
Outros autores de
expressiva qualidade estão chegando para com suas criações dar andamento ao
legado desse conjunto de escritores do melhor exemplo. Apesar de cometer o
pecado da omissão, cito alguns deles: Antonio Junior, Renato Prata, Heloísa
Prazeres, Piligra, Margarida Fahel, Marcos Luedy, Gustavo Felicíssimo, Ruy
Póvoas, Heitor Brasileiro e Pawlo Cidade.