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terça-feira, 2 de junho de 2015



A Poesia Existencialista de Walker Luna

                                                       Cyro de Mattos

         Nascido em Itabuna, no dia 6 de agosto de 1925, o poeta Walker Luna publicou  os seguintes livros de poesia: Estes Seres de  Mim (1969), Companheiro (1979), Estações dos Pés (1983) e Na Condição do Existir (1999). Deixou inédito   Onde Os Fogos Se Cruzam. Incluí esse poeta em minha antologia  Itabuna, Chão de Minhas Raízes (1966) e o indiquei para a de Assis Brasil,  A poesia baiana no século xx (1999),  como fiz com Valdelice Soares Pinheiro, Firmino Rocha e Carlos Roberto Santos Araújo.  Dotado de uma linguagem fluente, Walker Luna  move seu discurso num ritmo agudo dentro dos limites do existir. Expõe essa paisagem estranha e solitária que comporta o ser humano na dor do viver. Poesia vazada numa experiência humana vivida com intensidade, entre a amargura e a insônia, o sofrimento e a angústia.  
         Oferece um testemunho de resistência luminosa, corajosa, de limitações  suportadas  com dignidade e altivez. Mas seus versos, de plena lucidez nas estações que comovem, trafegam também com acenos que nos descobrem livres, nos tons verdes que, transformados  em sumo vital, proliferam frutos.  
         É sobre seu último livro,  Na Condição do Existir,  publicado pela Secretaria da Cultura e Turismo,  Selo As Letras da Bahia, Salvador,  que faço  agora algumas anotações de leitura. O seu discurso nesse livro é marcado novamente  pelo enfoque de ressonâncias agudas na aventura precária comportada pelo  ser humano ao assumir a vida. Na corrente do existir o poeta estabelece o diálogo com o viver no ser. Aqui, neste encontro de alma e soluço, realidade e sonho, sinto o pulsar de espantos e indignações como elementos essenciais de uma condição interior, na qual as imagens são mitificadas,provocam ferimentos e ressoam com o seu tom vertiginoso, suas angústias, que são as de todos nós, de todos os tempos. De momentos vertiginosos que não se escondem através dos rumores de nossos sentidos.
          O poeta sabe que, mesmo quando protesta na coerência falha dos mortais,/ num aprendizado duro e sem termo/ na convergência de todo extravio, procede  nas dobras do pensamento  secreto e puro. Custa saber que na alquimia obscura da existência há o risco e o transe que são expostos através de situações estranhas, em um ritmo secreto de contágio e fogo, numa  canção onde as constantes influências tocam-se nos extremos. Elabora seu enigma feito de abismos.
         Emotivo sem ser lamurioso, porque consciente de que poesia é coisa séria, destituída de desabafos ingênuos, reflexivo, mas não conceitual no sentido estéril,  a poesia de Walker Luna resulta de uma experiência humana de natureza crítica do homem solitário. Cercado de sombras, indagações, fugas, depressões. Seus versos queimam como fogo,  sinalizam verdades na lucidez no sonho. Como na solidão passiva dos loucos descobrem-nos livres dos falsos ajustes/neste estágio maravilhoso/ entre a vida e a morte. Assim, o poeta implora esta ausência total, desconhecimento da própria matéria./ verdadeiros símbolos/ de pureza unânime.
       Em seu clima adensado de conflitos interiores permanentes, a poesia de Walker Luna está expressa nos limites do existir com a sua problemática subjetiva inserida na dor de viver, nesse estar do mundo das criaturas  como cúmplices do sofrer ante o transitório e o inevitável. Vida é dor, disse o poeta Jorge de Lima, logo se vivemos, onde todos os fogos se cruzam, é porque sofremos. A dor de viver com toda a sua carga terrestre, as estações sempre em chamas, o ontem e o hoje como uma unidade que lateja nas cordas mais agudas da condição humana, essa é a  matéria que nas visões contínuas propostas pelos golpes da  vida  o poeta Walker Luna transfigura nos sinais poéticos da escrita, na palavra trabalhada com fluência para atingir aquelas zonas da ilusão,  própria  do sonho, que nos acompanha desde não sei quando e comove.
            Poesia de homogeneidade temática e formal,  dá a impressão de um poema puxar o outro, como uma canção cheia de delírios, esta poesia mostra como o poeta deve usar a palavra com suas imagens e metáforas precisas  para alcançar aquele nível  expressivo, íntimo da boa fatura estética. Com a força dos que amam,  a poesia de Walker Luna dá um testemunho dos que sofrem com lucidez  quando então   buscam na tristeza, na angústia,  a alma de todos nós,  seres contraditórios e finitos na condição do existir.  
            Walker Luna faleceu em 3 de julho de 2007, em Jundiaí, São Paulo.

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