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terça-feira, 4 de outubro de 2016

                      Contos dos Mares da Bahia  
                                    
                                   Gerana Damulakis
                             
      Histórias dos Mares da Bahia é uma antologia específica e, como tal, seu organizador optou por planejá-la segundo uma circunstância comum: o cenário, ou seja, os mares da Bahia. As antologias literárias específicas não pretendem cobrir a produção literária visando abarcar um todo, porém miram determinado aspecto que reflita um interesse especial. É importante a organização de uma antologia de contos que guarde um ponto comum e essencial, presente em todos os textos. Mais interesse surge se pensarmos na extensão da costa baiana, pois o nosso é o estado brasileiro com o maior litoral, haja vista seu impressionante número, cerca de 900 km, que indica 12, 4% do litoral brasileiro.
     Diante dos números, fica óbvio que a arte baiana tem o mar como presença praticamente obrigatória. Mas isto não é verdade quando se trata da arte literária. O mar não está como cenário constante na maioria dos textos, quer se pense nos romances, quer a leitura se fixe nos contos. Talvez se faça mais cantado na poesia. É certo que na obra de Jorge Amado encontramos tanto o mar, quanto as plantações de cacau, como cenários recorrentes de seus romances, que são os romances da Bahia, como o próprio escritor os denominou. E Adonias Filho lançou seu personagem rumo ao mar, para se entregar à vida do mar, abandonando tudo o mais, em Luanda Beira Bahia. No gênero conto temos alguns exemplos, tais como “O Arpoador” e “A Noiva do Golfinho”, de Xavier Marques, como marcos importantes. De Vasconcelos Maia, com seu conhecimento sobre o mar, dono de saveiro que era, temos os contos “Cação de Areia”, “Tempestade” e “Um Saveiro Tem Mais Valia”. Mas, reparando bem, os escritores baianos preferem ver o mar da praia, ou no cais, em terra firme olhando o mar, só que, nesta altura, levantar tal questão não tem muita importância. De forma que o organizador Cyro de Mattos traz contos pinçados das obras de cada autor presente em Histórias dos Mares da Bahia.
      Sendo vários autores e, claro, vários estilos, a versatilidade que o livro apresenta pode ser entendida como exemplos da sabedoria que o mar deixou em cada autor, o que cada um arrebanhou ao longo de suas vidas e de seus contatos com a vastidão do Atlântico. O mais relevante nesta antologia são fatos reais: o fato primeiro de juntar os textos, depois o de registrar tais textos mediante a publicação, a exposição dos autores e, por fim, mostrar e chegar aos leitores mais uma produção que enriquece a literatura baiana. A roda da engrenagem avança mais um dente.

           
        (Salvador, olhando para o mar da Baía de Todos os Santos.)

*Gerana Damulakis é ensaísta e crítica literária. Ocupa na Academia de Letras da Bahia a cadeira que teve como último ocupante o escritor Hélio Pólvora.  

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