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terça-feira, 19 de maio de 2020




Editoras no Sul da Bahia

Cyro de Mattos
              
Há pouco mais de cinquenta anos, o romancista Otávio de Faria perguntou na Biblioteca Nacional ao amigo Adonias Filho o que era que o sul da Bahia produzia além do cacau. Respondeu sem hesitar o consagrado escritor Adonias Filho que produzia artistas da palavra.  E citou os nomes de Jorge Amado, Sosígenes Costa, Emo Duarte,  Jorge Medauar e Hélio Pólvora. Acrescentou que mais escritores estavam chegando, como Telmo Padilha, Florisvaldo Mattos, Marcos Santarrita, Ildásio Tavares,  Sonia Coutinho e este cronista.
        A publicação de escritores do sul baiano naqueles idos que já vão longe acontecia  de fora para dentro. Depois que a Universidade Estadual de Santa Cruz foi implantada  há pouco mais de duas décadas, a publicação de escritores sulinos do Estado  passou  a ser realizada de dentro para fora.   Como usina  educativa e cultural, a  UESC vem fornecendo  o  instrumental teórico necessário, que serve como estímulo e lapidação das vocações dos escritores  no sul do Estado.   
Formado  o poderoso corpo literário,  fazia necessário a criação da editora para  publicar os livros de tantos  autores nascidos ou residentes no sul da Bahia. Surgiu primeiro a Editus, editora da Universidade Estadual de Santa Cruz,  sediada na rodovia Jorge Amado, entre Ilhéus e Itabuna. Dirigida hoje pela  doutora Rita Virgínia Argolo, passa por fase difícil  em virtude da falta de verba estadual.  Presta-se às publicações  de natureza universitária, além de prestigiar a edição de autores  regionais, selecionados pelo seu conselho consultivo.   A impressão de seus livros,   sob o ponto de vista de confecção artística e gráfica, para não se falar do conteúdo,  é de excelente nível.   Circulam em ambiência nacional, com a vantagem de que  a Editus  integra a Associação Brasileira  de Editoras Universitárias, marcando   presença em feiras de livros e eventos, inclusive nas bienais de São Paulo e Rio de Janeiro.
A segunda de nossas editoras é a Via Litterarum,  sediada em Ibicaraí, já com dezenas de títulos em seu catálogo.  Seu diretor é o  incansável Agenor Gaspareto, dublê  de editor guerreiro e professor universitário. A caçula é a Mondrongo, regida sob a batuta do poeta e  cronista Gustavo  Felicíssimo, localizada em Itabuna. Possui livros premiados em concurso literário cobiçado, de âmbito nacional, como  A Dimensão Necessária, de João Filho, Prêmio de Poesia da Biblioteca Nacional, e Natal de Herodes, Prêmio de Poesia da Academia Pernambucana de Letras.  Qualquer escritor que seja publicado por uma das três  editoras está  em boas mãos.
Lamentável. Até hoje essas editoras não receberam por sua iniciativa o  reconhecimento e o abono merecido  de um projeto  das secretarias de educação e da cultura de Itabuna e Ilhéus, como incentivo à edição de livro do autor regional.   A literatura é útil ao próximo na compreensão do mundo.  Fala à imaginação e ao sentimento. É a expressão mais completa do homem na leitura do mundo. Cometem  omissão incompatível  com a sua finalidade de órgão público educativo  quando deixam de elaborar projeto de reconhecimento e incentivo  à editora no sul da Bahia.  O patrimônio  formado pela literatura  é valioso,  serve para  apresentar  a vinculação da vida no seu processo histórico  ao percurso  espiritual de um povo.  Nunca é demais lembrar o que nos disse o genial poeta Castro Alves.

 Oh! Bendito o que semeia
Livros à mão cheia
E manda o povo pensar!
O livro, caindo n'alma
É germe – que faz a palma,
É chuva – que faz o mar!

*Cyro de Mattos é poeta e escritor. Primeiro 

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