Olimpíadas
Cyro de Mattos
Historiadores
falam das Olimpíadas como jogos esportivos nacionais realizados primeiro na
Grécia. A tradição informa que eram organizadas pelo próprio Júpiter, deus
supremo, o dono dos céus, também pai dos deuses e dos homens. Esse espírito
esportivo, que enlaça os continentes no planeta terra, com grande emoção e
curtição pura, só podia mesmo vir dos céus. Eram realizados em Olímpia, na Élade,
e, de todas as partes da Grécia, África, Ásia e Sicília, acorriam espectadores
para assistir os Jogos. Duravam cinco dias e aconteciam no verão, de cinco em
cinco anos. Acredita-se que a primeira Olimpíada foi realizada no ano 776 a.C.
Dão conta os cronistas de cinco espécies de
provas nos primeiros Jogos Olímpicos: corrida, saltos, luta, lançamento de
disco e lançamento de dardo. Vê-se desse modo que há milênios o ser humano vem
procurando mostrar agilidade, força corporal e ímpeto como qualidades de seu
heroísmo. As Olimpíadas ofereciam também concursos de música e eloquência.
Dava-se assim aos poetas, músicos e escritores oportunidade para que ficassem
famosos. A fama dos vencedores espalhava-se pelos pontos distantes da Grécia.
O
atleta supera os limites nos Jogos Olímpicos. Corre como o vento, ora
resistindo, ora saltando barreiras. O importante é o corpo desenvolver na raia
o ritmo nervoso, para superar desejos de ser tanto quanto o raio. O amor alcança graça e beleza no vazio do
espaço quando se trata de salto ornamental na piscina. Pássaro que desce em
harmonia de músculos, pele infiltrada de sonho que não recusa o prazer em
contato com a água, tornando-se mergulho divinizante da matéria inebriada por
sublime conjunção de um instante esplêndido.
A
força vira um guindaste quando sustenta o peso enorme com habilidade, um e
outro se unindo no impulso da esperança, que quer se consagrar vitoriosa no
pódio. Esforço que se nutre do ideal de ser alguém poderoso, reconhecer-se
inscrição no que é entrega com todas as forças que se consegue reunir, para
sentir finalmente que em volta a vida é a marca da conquista. Pelas mãos e pés
num movimento de peixe, que agita a água, o atleta consegue ser lancha. Ao ver
a bandeira subir vagarosa sob o hino da pátria, essa sensação que tenho na
cadeira diante da televisão é canção de bonança.
As mãos ficam leves no levantamento, defendem
com denodo, descem com violência na bola, como se quisessem enterrá-la na
quadra adversária. Não se alimenta de indecisões o tempo que urge a vitória,
balançando-se com a plateia entusiasmada. As mãos ficam rápidas, fazem
coisas incríveis quando a bola tem por meta ser lançada em fração de segundos
para cair na cesta.
Nas
Olimpíadas surgem alguns heróis inesperados, mas o que predomina como regra é a
vitória daqueles que são anunciados como favoritos. Técnicos e atletas dizem
que preparo físico, precisão e vontade são requisitos essenciais para quem
quiser ocupar o pódio. Uma das coisas que mais impressiona no maior espetáculo
esportivo deste planeta é esse milagre de fazer do mundo uma ciranda. A vida, a
vida, a vida. Unem-se povos do mesmo sangue, desunidos há décadas por forças
ideológicas, como no caso das Coreias do Norte e do Sul em Seul.
Acontecem
milagres que surpreendem a humanidade. Nos jogos realizados na Alemanha foi
derrubado o mito da superioridade da raça ariana diante de Hitler quando o
atleta negro americano Jess Owen correu entre atletas brancos e venceu as
corridas. O jogador Mágico Johnson jogou com a aids em todas as partidas,
transmitindo só felicidade com jogadas incríveis, que culminavam em cestas
maravilhosas.
O
que ressoa das Olimpíadas como hino do convívio ideal e do amor é esse espírito
pelo qual se mostra que o ser humano quando quer pode ser um companheiro
alegre, tão do mundo. Não importa a raça, a vida em volta é uma dança. Plena,
sem vazios, contradição e exclusão. Em espaço rico é ocupada pela harmonia de
ser prazer com sustos magníficos, que se reconhecem nítidos no lado azul da
canção. Copula a vida no voo, salto, nado, mergulho, dardo, arremesso, corrida,
em quantas formas se invente como uma flor ou bola que no mundo rola.
As
Olimpíadas acontecem para que a vida em luz humana se recuse a andar por aí no
mundo com cada um só pensando em si.