Entidade
Símbolo dos ´Trabalhadores
Por Cyro de Mattos
No dia 8 de
fevereiro de 1920, artistas e operários de Itabuna se reuniram em momento
festivo para a posse solene da primeira diretoria da Sociedade Monte Pio dos
Artistas, eleita em 1º de novembro de 1919.
Em momento histórico, de
saudável memória, mostravam que de fato e de direito tinham obtido autonomia
suficiente para construir uma sociedade de amparo à sua classe e que iria
sobreviver às intempéries da dura lei da vida. A criação da entidade simbolizava
um triunfo justo da luta organizada dos trabalhadores em busca de melhores
condições de vida no sul baiano.
Ao longo dos anos essa sociedade iria se
consolidar como uma das principais agremiações de artistas e operários do Sul
da Bahia, construindo uma significativa rede de sociabilidade e de
solidariedade entre os trabalhadores.
Funcionou como palco de importantes reuniões envolvendo artesãos e
autoridades políticas, bem como cenário de festividades em torno de quermesses
e de tocatas da filarmônica, fruto do esforço das atividades desenvolvidas
pelos seus membros.
A fundação da Sociedade Monte Pio dos Artistas
foi liderada pelo carpinteiro Flaviano Domingues Moreira, que, após receber uma
carta, que lhe fora enviada pelo deputado Maurício de Lacerda, reuniu ourives,
pedreiros, tanoeiros, funileiros e outras categorias de artistas para criar uma
das primeiras associações de trabalhadores da região cacaueira da Bahia.
Através da instituição de caráter filantrópico, seus associados tornaram-se
detentores de uma série de direitos que ajudavam a amparar parte da classe trabalhadora
no enfrentamento de dificuldades econômicas, apesar da riqueza promovida pela
economia cacaueira na região sulina do Estado.
Entre as vantagens, o membro da sociedade era
amparado em caso de acidente de trabalho, de moléstia contraída, ou se viesse a
ficar desempregado ou impedido de trabalhar. Esse espírito de corpo revelava o
caráter solidário de humanismo social da associação, que buscava criar
mecanismos de sobrevivência para seus membros.
O Monte Pio dos Artistas promoveu também a
criação de duas outras entidades de relevante importância para a sociedade
local – A Escola Manoel Vitorino e a Filarmônica Euterpe Itabunense. Foi por
meio dos esforços de seus associados que, em 1921, inaugurou-se a escola
noturna, destinada a educar os filhos de artistas e de trabalhadores que não
tinham acesso à educação pública ou que não tinham condições de pagar escolas
particulares.
Ressalve-se que a Sociedade Monte Pio dos Artistas de Itabuna tornou-se uma das poucas entidades dessa natureza que conseguiu sobreviver até o século XXI, mantendo-se ativa em suas funções, provavelmente a única. O autor do presente texto aprendeu o ABECÊ nos bancos da Escola Manoel Vitorino, com a professora Lourdes Hage. Pessoas ilustres da terra tiveram o aprendizado das primeiras letras nessa escola. Por outro lado, a Filarmônica Euterpe Itabunense foi criada em 1925 e sua função era reunir trabalhadores associados ao Monte Pio que tivessem vocação para a música. Era função da filarmônica comparecer às manifestações cívicas, religiosas e festivas da cidade. As tocatas dos músicos da Euterpe Itabunense ficaram registradas na memória de muitos moradores.
Uma dessas tocatas na praça Adami, sob a batuta
do maestro Elpídio, foi assistida por um menino que se tornaria depois um dos
poetas de sua terra. Anos mais tarde, o poeta registraria no seu livro Cancioneiro
do Cacau o poema “Músico”, motivado por aquele momento de encanto e magia
produzido pela Filarmônica da Euterpe na sua infância.
Abaixo transcrevo o poema.
(Para Sabará)
Encanto
de som
vem
da filarmônica,
na
praça o povo
êxtase de onda.
Prata do clarinete,
ouro do saxofone,
flor
da flauta.
riso
da tuba,
brilho
do pistão,
diamante
da caixa
e
o voo na valsa.
(Cyro
de Mattos)
Cyro aos quatro anos com os coleguinhas na
Escola Montepio dos Artistas, é o primeiro da frente que segura o ABECÊ.
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