Páginas

quinta-feira, 2 de março de 2017

                                          


                                                     Tempo de Carnaval        
                                                                                                  Cyro de Mattos

Tempo de carnaval. O banco, o escritório, a indústria e o comércio eram substituídos por uma máquina de fazer alegria. O corso passava pela Avenida Sete numa maravilhosa ventura em torno do tempo perdido na história.  Improvisava figurações diversas, tinha feições de cores e luxo, uma ópera no desfile do carro alegórico  lembrava a Grécia antiga, Veneza. O êxtase e riso invadiam a Rua Chile. Havia a guitarra elétrica na fóbica, puxava atrás pequena multidão, formada por gente do povo nos  prazeres, vibrações de corpo que insinuavam uma dança frenética.   
       O bar Cacique, antes Bob’s, vizinho ao Cine Guarani e ao cabaré Tabaris, era parada obrigatória do folião para o chope.
      Ele se impregnava no carnaval  daquela forma de viver, que não queria saber do mundo rotineiro, fantasiava a onda humana para cantar e dançar na avenida. Blocos antigos, afoxés, batucadas. Na tanga do índio, na mortalha  suada da moça, no amor da colombina. Ventos da utopia. A vida suavizada pela passagem mística do bloco Filhos de Ghandy.
           Tempo que transformava o branco no preto, o pobre no rico,  o sacro no leigo, com o padre e a freira. Não havia vencedores e vencidos, viver era igual a se divertir.
       Pelo salão com a espada de pau. O olho tapado na cara de mau. E a cigana que fingia ser definitivo o amor passageiro no carnaval.  O chão cheio de confete, serpentina colorindo o ar, a lança que perfumava a melindrosa em  cada volta. Risos com mais de mil palhaços no salão, pierrô fazendo suas juras,  arlequim chorando pelo amor da colombina no meio da multidão. 
            Vestido de marujo, viajando  pelo mundo de uma só cor, a da euforia. Na quarta-feira de cinzas, quando o coral silenciava, sem o apito da alegria,  descia da nau, que chegava ao porto no jardim da Piedade. Chegava de madrugada, polvilhada de fadiga pela cauda, puxando a manhã  fresca e pura.

                                                                                

Nenhum comentário:

Postar um comentário