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quinta-feira, 23 de julho de 2020


        



           Torcedor na Desportiva    

                                                   Ao amigo Fernando Riela,
                                                               que tantas alegrias nos deu.           

Cyro de Mattos


Penso que um futebol amador de jogadores com boa técnica, que  se exibiam no velho e saudoso Campo da Desportiva, não deveria ficar esquecido. Merece um museu  para que um dos aspectos da nossa memória seja valorizada.  Sirva  para que as novas gerações tomem conhecimento  de que é o homem que faz o lugar e  não o lugar que faz o homem.  Explico melhor.  É imperioso que o futebol amador de uma cidade de interior, que teve fase  áurea,  seja mostrado aos conterrâneos e visitantes, curiosos e estudiosos. Como nasceu e se desenvolveu  com tão boas qualidades técnicas durante  seu longo curso de amadorismo. Avaliado nas razões de como jogadores que não eram profissionais, numa época distante do interior baiano, longe de centros esportivos desenvolvidos, como Rio e São Paulo, ou até Recife,  Belo Horizonte e Porto Alegre, deram espetáculos com um potencial técnico surpreendente, movido com arte e emoção.
Jogadores amadores que podiam vestir a camisa de  grandes clubes brasileiros, se tivessem atuando hoje. Não será exagero afirmar que com sorte alguns desses jogadores poderiam chegar  até mesmo à Seleção Brasileira. Cito três: Léo Briglia, Déri e Fernando Riela. Como aconteceu com o Perivaldo, que surgiu no declínio do Campo da Desportiva, ou com outros de época mais recente, quando então os meios de comunicação fazem ficar conhecidos os atletas que jogam  em lugares distantes desse imenso Brasil. 
                         Sem ufanismo, sabem como eu e os mais antigos desportistas de minha terra natal, vários  deles hoje passando dos setenta anos, que aqueles jogadores amadores escreveram, no piso esburacado de um estádio acanhado, páginas belas de uma das nossas maiores paixões populares. Basta dizer que meio século depois nenhuma cidade do interior da Bahia conseguiu igualar a saga da seleção amadora,  campeã seis vezes seguidas pelo Intermunicipal. Antes de alcançar essa marca, venceu  o Torneio Antonio Balbino, em Salvador, no qual participaram outras boas seleções do interior baiano. 
             Publiquei um livro sobre esse futebol amador  para contribuir um pouco com a preservação dessa memória. Promovi quando gestor cultural da cidade o documentário “Saudosa Desportiva, Gloriosa Seleção”. Sua exibição foi um sucesso. Tocou os corações de muitos,   familiares de jogadores, torcedores daquela época do futebol amador,  curiosos de ontem e hoje. Na tela do palco do Centro de Cultura local,  uma seleção amadora de futebol ressurgiu do fumo do tempo para mostrar  uma das faces da alma do povo brasileiro: o futebol. Jogado com emoção e garra,  classe e algum feitiço no campinho do interior.
           Sempre estou agradecendo àqueles artistas da bola na época de ouro de nosso futebol amador, pelas  alegrias que nos  deram no velho e saudoso Campo da Desportiva. Deles e do velho campo, com os momentos fascinantes, agradáveis e divertidos,  não  devo esquecer. Inspirei-me naquele mundo que se foi e escrevi  o poema  que transcrevo abaixo.

:  
Soneto do campo da Desportiva 

 De zinco era coberta a arquibancada,
A cancha tinha um piso esburacado.
 Nem um pouco essa chuva demorada
Conseguia deixar desanimado

O torcedor, que curtia a jogada
 Do seu ídolo na bola passada.
Dos pés a mágica mostrava ser
 Tudo um sonho para nunca esquecer.

 O gol de placa do atacante quando
 A partida já chegava ao final
 E a marca da seleção que venceu

 Tantas vezes o intermunicipal
 Não se desligaram do torcedor 
De antes pelos estádios do  mundo.   


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