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quinta-feira, 9 de julho de 2020


             

         Nelly Novaes Coelho e os Escritores Brasileiros
                                     
                               Cyro de Mattos

               Em sua contribuição enciclopédica e analítica da literatura, como os iluministas de ontem, Nelly Novaes Coelho, essa intelectual rara, desincumbe-se da jornada literária com erudição, consciência crítica e uma santa paciência de pesquisadora. Ela sempre está surpreendendo. Depois de enriquecer o corpo das letras brasileiras com volumes importantes como Literatura e Linguagem, Literatura Infantil, Dicionário Crítico de Escritoras BrasileirasDicionário Crítico de Literatura Infantil e Juvenil Brasileira, Panorama Histórico da Literatura Infantil/Juvenil,  na idade em que muitos já aposentaram suas ferramentas, eis que ela comparece com ensaios fecundos para brindar  seu  público leitor com a obra monumental Escritores Brasileiros do Século XX.
          O alentado volume é resultado de 50 anos de pesquisas, leituras e releituras de obras apresentadas em cursos universitários, congressos, seminários, colóquios, no Brasil, Portugal e Estados Unidos da América.
      São 81 escritores analisados neste precioso e extenso livro. Dos mais conhecidos, como  Jorge Amado, Graciliano Ramos. Guimarães Rosa, Mário de Andrade, Oswaldo de Andrade, João Ubaldo Ribeiro, Ignácio de Loyola Brandão,  passando por nomes expressivos que ficaram esquecidos pela crítica e do mercado editorial,  como Cornélio Pena, Gustavo Corção, Adonias Filho, Murilo Rubião, Victor Giudice, Campos de Carvalho e   Alcides Pinto.       
         E ainda outros que precisam de divulgação para que melhor sejam conhecidos:  Vicente Cecim, Olavo Pereira, Agripino de Paula, Fausto Antonio, Ricardo Guilherme Dicke, Mora Fuentes, Samuel Rawet e Alaor Barbosa. Todos esses autores, elencados nessa obra enciclopédica de ensaio, dão voo à razão e à emoção quando abordam a problemática existencial do ser humano e a crise de uma sociedade exaurida de valores e sentidos. Dão  imaginação e transcendência ao mundo.
         A escritora admirável revela que  foi a “Sorte ou o Acaso” que puseram em seu caminho os 81 escritores reunidos e analisados neste seu último livro. A generosidade, a humildade e a solidariedade são marcas da alma dessa grande  ensaísta.   Os autores aqui analisados tiveram, sim,  a sorte ou o acaso que foi posto  em seus caminhos com uma analista literária da extensão de Nelly. Um autor para ser instituído como cânone precisa de um crítico dotado  de instrumental teórico suficiente, que  chame a atenção para as questões estéticas, seja capaz de revelar os elementos estruturantes que entraram  na composição da  forma e conteúdo da sua obra.
         No meu caso,  de autor baiano insulado em Itabuna,  no sul da Bahia, distante do eixo Rio e São Paulo,  que ainda hoje  funciona como tambor cultural desse país inculto, por mais que o mundo de uns tempos para cá tenha se tornado uma aldeia globalizada, nem sei como agradecer a minha inclusão  na relação desses escritores conceituados, selecionados e reunidos  no testemunho crítico da Nelly.
         Vale a pena repetir o que certa vez  ela disse sobre a literatura: “Sem leitura e escrita a vida não tem emoção.”
       Essa Nelly Coelho Novais, que viveu para amar a literatura e  que, em contrapartida,  tanto demonstrou quanto a amava.

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