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terça-feira, 20 de dezembro de 2022

 

A Zanga e o Sorriso de Papai Noel

                               Cyro de Mattos

 

Barba branca, cabelos compridos, brilhantes, sedosos. Botas pretas, folgadas, cetim vistoso encarnado no vermelho.

Sorriso, abraço, ritual de arminho inocente, peito venturoso em carícia do velhinho bondoso.  

Saco enorme de brinquedos. Véspera de Natal, o shopping com suas ondas de gente, vindo pra cá, indo pra lá. Escadas rolantes, subindo, descendo. 

A cidade inteira em festa.

Guardador de ternas surpresas, a criançada em volta.

Foto, sorriso gordo, magia branca de velho pacífico.

Sorria, meu bom velhinho, sorria.

O que está acontecendo?

Nada de sorrir. Cansado do mesmo gesto, todos os anos.

Alegria para os outros, para ele não, nada de prometerem um presente para fazê-lo sorrir.

Aprisionado o célebre sorriso, rô, rô, rô...

Sem dar o abraço fraterno, aquecer o pequeno coração.

Rosto abraçado ao rancor.

Uma criança teve medo. Outra chorou. Teve uma que fugiu estabanada.

Até que uma chegou junto. Deu-lhe um abraço, fervoroso.  Um beijo.

Disse:

- Feliz Natal, Papai Noel!

Comovido. Olhos azuis aguados.

Como num berço quente.

Abraçou uma a uma.

Tirou fotos, sorriso sereno.

Rô, rô, rô...

O Natal com cheiro de estábulo.

Retomado nos ares cativantes.

Sorridentes. Festivos.  

 

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