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terça-feira, 20 de agosto de 2013

Rio Morto

      

Rio Morto é uma bela e nostálgica visão do que os homens estão fazendo hoje com o mundo em que lhes cumpre viver. É belo e doloroso esse poema... que os homens se sintam tocados por ele!”


Nelly Novaes Coelho, escritora, Doutora Professora Emérita de Literatura Portuguesa da USP.
    

       RIO MORTO
Cyro de Mattos

Vejo tua face invisível
Na claridade das águas,
Espumas lavadeiras nas pedras
Diversicoloridias de roupas.
O céu azul de nuvens mansas.
A lua derramando prata
No areal deixado pela cheia.
Eu sou aquele menino
Que engoliu tua piaba
Para aprender a nadar.
Eu sou aquele menino
Que pegou tuas borboletas
Nos barrancos voando em bando
Eu sou aquele menino
Que sentiu com tuas boninas
A proposta livre da vida.
Eu sou aquele menino
Magro, esperto, traquino
Em tua paisagem luminosa.
Não havia, amor, dúvida,
Ares sombrios pegajosos
Cobrindo tua ilha com tesouro
Guardada por almas de piratas.
Nessa manhã de banho ausente,
Susto nos peraus e remansos,
O sol sem vidrilhar a correnteza,
Tristes meus olhos testemunham
Tua descida pobre e monótona.
Tua morte lentamente com sede
Inventada nas bocas de vômito...
Cachoeira o teu nome
Do rio que chora água.


Imagens: Google - Rio Cachoeira e Cyro de Mattos
(imagens cedidas por Ceres Marylise)
Arte: Auber Fioravante Júnior
Em 01/10/2011
Porto Alegre - RS,
 
 

Abraço, Cyro 

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