Cyro de
Mattos
O Bahia é tetracampeão do Nordeste no formato atual
do campeonato. Ganhou dessa vez na disputa de pênaltis, dois a um no tempo normal,
contra o Ceará, lá em Fortaleza, cancha do rival. É bom lembrar que quando a
Confederação Brasileira de Futebol criou a Taça Brasil o Bahia foi o primeiro a
conquistar o título inédito de campeão brasileiro. Derrotou quem, quem mesmo? O
Santos de Pelé, na Vila Belmiro e depois no palco lendário do Maracanã, na terceira
partida melhor de três.
Para
disputar o título de campeão brasileiro com o Santos, o Bahia teve antes que se
sagrar campeão do Nordeste. Várias vezes foi o vice-campeão da Taça Brasil e,
em consequência, muitas vezes campeão do Nordeste. Naquele tempo era assim, o
campeão do Nordeste disputava o título de campeão brasileiro com o time que
vencesse o torneio disputado entre os
campeões do Rio, São Paulo, Minas e Rio Grande do Sul.
Lá
estava o Bahia no pódio da glória eterna. O primeiro time nordestino a pisar no
tapete verde do Maracanã. O primeiro a se sagrar campeão brasileiro numa
jornada épica.
Outro
feito notável foi aquele em que se sagrou campeão brasileiro na disputa do
título contra o Internacional. Dois a um na Fonte Nova. Zero a zero no
Beira-Rio. Sabe quem era o goleiro do Internacional? Tafarel. Ele mesmo, de
quem o narrador Galvão Bueno gostava de dizer, sai que é sua, Tafarel! Aquele
mesmo goleiro que tempos depois iria se consagrar como pegador de pênalti quando
vestia a camisa da Seleção Brasileira. Seria para muitos o maior goleiro da
Seleção Brasileira. Contra a Itália pegou até pênalti nas batidas para saber
quem era o país campeão mundial.
Bahia!
Bahia! Bahia! Escuto do povo o clamor, o grito que salta de seu hino vibrante e
lateja no meu coração. Mais um Bahia,
mais um Bahia, com glória é assim que escreves a história, pois nasceste para
vencer, renascer das sombras quando as nuvens da vitória decidem se movimentar
ao contrário. O torcedor não precisa se irritar, logo as nuvens do azar hão de
passar. Não custa esperar, não precisa andar de cabeça baixa, torcedor do Bahia
na derrota é como vara de bambu, enverga, mas não quebra. O grito conhecido certamente
irá aparecer com todas as forças que o amor é capaz de reunir. É campeão! É campeão! É campeão!
Como esquecer a primeira vez que vi jogar
esse time chamado pelo torcedor de esquadrão de aço? Foi no velho Campo da Desportiva,
de minha cidade natal. Foi contra o Flamengo local. Bahia quatro a um. Não
podia ser diferente, também pudera, um time profissional da Capital contra um
time amador do interior. O resultado não podia ser outro. Nessa partida que até
hoje ficou na mente como memorável brilhou no Flamengo o talento do craque
itabunense Léo, que seria depois um atacante dos melhores no Fluminense carioca
e campeão da Taça Brasil pelo Bahia.
Foi aí que conheci pela primeira vez,
naquela partida amistosa para comemorar o aniversário da cidade, alguns craques
do tricolor baiano, como o lendário goleiro Leça, o incansável Gereco, um
driblador impossível, o ponteiro-esquerdo Isaltino, dono de um chute violento,
preciso, indefensável, o zagueiro Arnaldo, saía sempre da área com a bola
tratada com fineza. Foi naqueles
instantes de domínio da bola com classe que o menino, torcedor do Flamengo
local, ficou com os olhos arregalados, saiu encantado do estádio lotado com as
jogadas dos craques do Bahia.
Ah, meu Bahia, foi paixão que, no
primeiro olhar, nascia de calça curta na cancha da Desportiva, um modesto campo
do interior, e que seria levada tempos depois com grandeza e entusiasmo pelos
estádios monumentais do Brasil.
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