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sábado, 22 de fevereiro de 2014

Carnaval
                                                         
                  O carnaval no Rio de Janeiro não é o mesmo de Olinda, Recife, Salvador e outras cidades brasileiras. Conservando o elemento comum que os une, a participação coletiva que irrompe na maior felicidade, o Carnaval no Rio tem na escola de samba sua marca pessoal. Na ópera popular, que se exibe na passarela do asfalto, desfilam passistas, ritmistas, fantasias, carros com alegoria,  samba enredo, bateria com um grande número de figurantes, alas de baianas e comissões de frete. Aparecem figurações diversas que, em sua feição de cores e luxo, impressionam vivamente. Deslumbram. Arrancam palmas da plateia. A vida dança ritmos ardentes, solta desvairadas vibrações do corpo, canto e prazeres numa maravilhosa ventura em torno do sonho. Em Olinda e Recife, bonecos gigantescos arrastam multidões sob o ritmo rápido do frevo. Passistas improvisam uma coreografia individual e frenética.
           Ao fechar o banco, o escritório, a indústria, o comércio, o Carnaval é sempre o mesmo. Com a sua máquina de fazer alegria, inventar o êxtase e o riso, varre as formas de viver do mundo rotineiro, trazendo ventos da utopia  para empurrar a onda humana que canta e pula na avenida. Em Salvador, com ou sem turista, dinheiro ou sem dinheiro, vibra na tanga do índio, na mortalha suada da moça, vocifera, trepida ao som do trio elétrico, mexe, remexe sob a nova dinâmica dos ritmos negros. Suaviza a vida quando passa numa onda mística com o bloco “Filhos de Ghandi”. Serve de extroversão a milhares de pessoas e de fuga aos que preferem à casa de praia ou de campo.
      Não se pode deixar de considerar que o Carnaval ativa o comércio informal.  É a oportunidade que muitos encontram para ganhar um dinheirinho e sobreviver na dura lei da vida. Na quarta-feira de cinzas, quando o coral frenético silencia, o Carnaval oferece a muitas pessoas uma oportunidade de ganhar o sustento nessa incrível arte da sobrevivência. Dezenas  nesse Brasil tropical e carnavalesco estão a postos para limpar o lixo da euforia.
      O Carnaval de Itabuna já foi o melhor do sul da Bahia durante muito tempo. Não acontece há anos. Autoridades argumentam que nessa época o surto de dengue é grande nos bairros carentes da cidade,  os recursos públicos  que seriam  fornecidos para animar  a festa devem ser  destinados para debelar, controlar ou atenuar   o surto da doença infecciosa,  que em alguns casos resulta em morte.
     Várias administrações municipais não vêm conseguindo derrotar ou pelo menos enfraquecer em níveis aceitáveis o surto da dengue nessa época, através da execução de um programa eficiente no setor da saúde comunitária, Assim, o Carnaval, que não é responsável pela dengue, é impedido de acontecer em nossa cidade. De onda eufórica para liberar a adrenalina passa a ser um vilão vil e repelente.  Nessa época, quando o Brasil usufrui uma de suas grandes paixões populares, o folião itabunense é jogado para escanteio. Fica a ver navios.  Tem como consolo  acompanhar a festa no Rio, Salvador e outras localidades pela telinha da televisão.
         Mais uma vez esse folião vibrante, antigo dono do pedaço quando passava e agitava na euforia, vai saber que na sua cidade não acontece nada no Carnaval, Nesses dias, a tristeza ganha da alegria.

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