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segunda-feira, 9 de maio de 2016







Três Sonetos da Mãe Ausente


                 Cyro de Mattos


I

- Menino, já para dentro
  Que vem o vento ventoso
  Levado, levando cisco!
 Menino, já para  dentro!

- Boa romaria faz
Quem em sua casa está
Em paz. E essas adivinhas:
O que é,  o que é, o ano todo

No deserto hóspede  ele é?
-Responda certo, menino
Esperto. Como esquecer

Essa de pura carícia:
A melhor  sombra de dia.
Da noite o beijo. Quem é?


II

A casa era pequena, mas em tudo
Os dias tinham  tuas mãos zelosas.
Colocavas nos vasos aquelas  rosas.
Como sonho na manhã perfumando, 

Esbanjavam pelos ares  ternura.
Davam vida à máquina de costura
Tuas pernas ativas. Os bordados,
Beleza tecida,  sempre lembrados.

Como o mundo de Deus era grandão.
Dizias que  primeiro a obrigação,
Depois,  filho, é que vem a diversão.

Só de lembrar  me dão água na boca
Teus doces. Cativando com açúcar,
Das  mãos divinas as amargas nunca.
  
III

A casa toda alegre, a manhã sente    
Tua voz cativando  desde cedo, 
Os afazeres no ar  iluminado
Por teu jeito de torná-la cantante.

No quintal do vizinho  passarinhos
Faziam o coro  com outros cantos.
Não sei qual dos cantos era o mais lindo,
O teu com o filho contente sorrindo 

Ou o deles na festa,  entre tantos,
A manhã pura bicavam,  afoitos.  
Como se fossem hoje os teus gestos

Ainda estão nítidos dentro de  mim 
Ligados num sonho que não tinha fim.
Tua voz, mãe, não ouço,  teve um fim.

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